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O Covid-19 encurralou o programa neoliberal

22-04-2020

Para percebermos o nível de gravidade da crise mundial é didático
prestarmos atenção em como os países ricos, do centro do capitalismo, vêm
operando para enfrentá-la. A maioria de nós, cidadãos e mortais comuns,
dependemos de nossa capacidade de filtragem crítica do “mundo” de
informações disponíveis na internet. Temos que possuir o mínimo de
capacidade intelectual para filtrar e organizar tais informações, sob pena de
sermos manipulados o tempo todo. Pessoas que têm dificuldades para realizar
tal filtragem dos dados ficam completamente a mercê de mentiras, calúnias,
informações fora de contexto e outras baixarias. No entanto, diferentemente
das pessoas comuns, o núcleo dirigente dos países imperialistas, que detêm
grandes fatias de poder, possuem informações privilegiadas, que só chegam
ao grande público meses ou anos depois. Ou mesmo, nunca chegam.

O plano que está sendo colocado em marcha nos Estados Unidos, por
exemplo, indica a magnitude da crise que o governo norte-americano está
vislumbrando. O mais importante plano econômico da história da economia
mundial, prevê um gasto inicial de quase dois trilhões de dólares, equivalente a
cerca de R$ 10 trilhões (só para efeito de comparação: o PIB brasileiro no ano
passado foi de R$ 7,3 trilhões). Segundo o governo norte-americano, irão
colocar, ao final da pandemia, mais dois trilhões de dólares para reerguimento
da economia. Essa fábula de recursos, um antídoto contra a crise econômica e
a pandemia, prevê injeções maciças nas empresas e até nos bolsos dos
cidadãos. Planos também muito audaciosos estão sendo implementados em
todos os países ricos. A Alemanha, “pátria da austeridade fiscal”, está
dedicando um valor equivalente a 35% do seu PIB no combate à crise. Nos
demais países imperialistas, o mesmo está ocorrendo.

Detalhe importante: o grosso desses investimentos nos países ricos, está
sendo feito nas empresas. Como se sabe o Estado não é neutro, ele é
comandado pelas burguesias de cada país. Lá, como aqui, os governos
querem resolver o problema da classe que manda no governo. Obviamente há
diferenças importantes, no tratamento dos trabalhadores da periferia e do2
centro capitalista. Os países imperialistas, como drenam riqueza do mundo
todo podem se dar ao luxo de tratar de forma diferenciada suas respectivas
classes trabalhadoras. Além disso, o nível de consciência e organização desta,
é diferente também no centro capitalista. Os repasses diretos de dinheiro, que
alcançarão a maior parte dos cidadãos norte-americanos, serão de 1.200
dólares por pessoa adulta e 500 dólares por cada menor de idade. Essa ajuda
direta aos cidadãos poderá alcançar 500 bilhões de dólares. O plano prevê
também uma linha de crédito de 367 bilhões de dólares para pequenas e
médias empresas, e um fundo de 500 bilhões para indústrias, cidades e
estados. Os trabalhadores demitidos receberão o seguro-desemprego durante
quatro meses, no valor habitualmente pago em seu respectivo estado, mais um
valor extra de 600 dólares.

Vejam a comparação entre Brasil e EUA: este país está colocando em
marcha um plano de combate à crise que até garante um dinheirinho para os
trabalhadores, ainda que o grosso dos recursos esteja direcionado às
empresas. No Brasil, destinaram míseros R$ 600,00 para os trabalhadores
mais precarizados, só que, para uma boa parte da população, que já está
passando fome, o dinheiro ainda não chegou. Mas os EUA é um país rico, que
explora o mundo todo para manter o seu padrão, enquanto o Brasil no pós
golpe de 2016, é praticamente uma colônia dos EUA.

Da mesma forma que nos EUA, na União Europeia (UE), organizaram um
pacote de medidas econômicas de 500 bilhões de euros (2,8 trilhões de reais,
40% do PIB brasileiro) para apoiar países, empresas e trabalhadores durante a
pandemia de coronavírus. O programa consiste em três pilares: uma linha de
crédito do Mecanismo de Estabilidade Europeu, o fundo de resgate da zona do
euro, com 240 bilhões de euros em empréstimos; um fundo de garantia do
Banco Europeu de Investimento com até 200 bilhões de euros em créditos para
empresas; e um fundo temporário com 100 bilhões de euros para ajudar no
pagamento de salários de trabalhadores e evitar demissões (ou seja, na melhor
das hipóteses, 20% apenas do valor vai para os trabalhadores).

Mesmo que o grosso dos recursos vá diretamente em auxílio às empresas
(o sistema é capitalista, quem manda são os donos do dinheiro) os
trabalhadores recebem um dinheiro para resolver o principal dos seus
problemas. Por que acontece este fenômeno? Henry Kissinger, 96 anos, ex3
secretário de Estado norte-americano e um dos estrategistas mais importantes
da história do imperialismo, nos dá uma pista importante: “Embora o ataque à
saúde humana seja – esperançosamente – temporário, o levante político e
econômico que desencadeou pode durar gerações” (publicado no The Wall
Street Journal, na semana passada, e reproduzido na mídia brasileira). Ou
seja, a preocupação de Kissinger - que certamente representa uma parte dos
“senhores do mundo” - é com o desgaste do sistema capitalista ao nível
internacional que essa pandemia trouxe.

Se as políticas neoliberais foram fundamentais para transferir, pelo menos
em parte, a crise do centro do sistema para a periferia capitalista, ao mesmo
tempo elas destruíram as já precárias políticas públicas de atendimento à
população, a começar pelos sistemas públicos de saúde e educação. Os EUA,
a grande potência mundial, tornou-se rapidamente o epicentro da pandemia no
mundo, com mais de 42.000 mortes e 787.000 pessoas infectadas pelo Covid-
19 (até ontem, 21.04.20). De outro lado, o Estado chinês colocou seus recursos
e sua força organizadora na resposta à pandemia. A estruturação do
atendimento aos pacientes realizada de forma extremamente ágil, a
organização da população, a adaptação da produção industrial às
necessidades de combate à doença, a construção de hospitais em tempo
recorde, a disponibilização de um grande número de testes - ações em grande
parte levadas à cabo pelo Estado – levaram a um rápido e impressionante
controle da doença. Por mais influenciável que seja pela mídia hegemônica,
uma parte das pessoas percebe essas diferenças.

Há todo um esforço no Brasil para isolar as inacreditáveis estultices
repetidas diariamente por Bolsonaro, do programa econômico “virtuoso”
coordenado por Paulo Guedes. Mas o que salta aos olhos é que justamente o
programa de Paulo Guedes dificulta muito o combate aos efeitos do
coronavírus, tanto no aspecto da saúde da população, quanto na economia. No
mundo todo as políticas que estão sendo implementadas são as desenvolvidas
a partir dos Estados nacionais. Independentemente do tipo de governo de cada
país, as políticas desenvolvidas utilizam a potência e a capacidade de
centralização e organização do Estado.

A pandemia disparou uma crise mundial que já vinha se desenhando antes,
e que, possivelmente, será a maior da história do capitalismo. O Covid-194
evidenciou para uma grande parcela da sociedade, como é fundamental a
existência de uma estrutura pública de saúde, que dê conta de atender
adequadamente a população, seja no dia a dia, seja em momentos críticos de
crises sanitárias, como a que estamos vivenciando. O advento do Covid-19,
evidenciou, pelo menos para uma parte da população mais antenada, a
natureza canibal do programa de guerra contra a população que está sendo
colocado em marcha pelo governo e que é apoiado por boa parte do
Congresso Nacional, como vimos pela aprovação das medidas recentes.


Texto elaborado por
José Álvaro de Lima Cardoso
Economista. 22.04.20

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